segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Lamentos

(I)
O vento bate forte contra o postigo,
através do qual miro as encostas escuras da montanha,
e parece rugir, querendo arrastar num vendaval furioso
todos os resquícios de pensamento…

Por que querer ficar se aqui não bate o meu coração?
Tormento meu… tão grande como o vendaval que ruge lá fora,
querendo trincar o seio da terra…

Que liberdade há na escolha angustiada?
Deixar-me levar pelas aventuras que clama o meu sangue de andarilho
ou ceder às mãos afetuosas que me enlaçam e aos olhos mudamente suplicantes?
Triste balança a minha sombra e pesa como se todas as decisões do Império estivessem sobre os meus ombros…

Por que há sempre uma lágrima a chorar? Por que, mísera alma, queres aquilo que não podes possuir – a plena satisfação de todos os desejos?

Sombria deve estar a noite, ao leste das pedras cinzentas da muralha.
Lá, os ecos da paixão diluem-se em fragmentos de esperança, que querem resistir…
Devo estilhaçar estes restos e jogá-los ao vento como grãos de areia?

Chorem, espíritos da noite!
Lamuriem-se aos quatros cantos do Império!
Derramem as mágoas por mim,
Que já não posso sofrer mais por não possuir duas almas!

(II)

Ah, águia, que lindo é teu vôo livre e audaz pelo espaço aberto!
Vem, amiga!, carrega-me nas asas para o refúgio seguro de teu ninho!
Leva-me para a tranqüilidade dos altos picos…

Lá, por certo, não haverão de incomodar as sombras das lembranças,
Nem mesmo recordarei a amargura da indecisão…

(III)

Não há nada que eu queira dizer…
Não cabe em mil palavras o que me descompassa o coração.
Impossível que não vejas em meus olhos o quanto é doloroso partir
para longe de tua ternura.
Anda! Corre e te esconde para não me ver sumir na curva da estrada!
Queima meus escritos, se assim preferir…
Grita teu desprezo para que os ecos repitam-se colina a colina,
até fugirem do alcance dos ouvidos…

Mas não me olhes deste jeito, não supliques a permanência de quem,
em pensamento, já não está aqui!

Bem sei quanto é amargo todo amor que não se pode consumir até o fim,
até o último lampejo de chama!

Mas creia-me, que motivos tenho para ir…
Eles me acodem em todas as horas de vigília e me atormentam o sono…

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