terça-feira, 4 de dezembro de 2012

TODA




Toda noite me traz essa certeza:
só tá faltando você aqui.

aqui, nos meus braços.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Releitura


Tenho medo do calor que vejo em seu olhar,
pois reflete minha alma em chispas de desejo,
craveja dúvidas em minha calma,
desvenda meus segredos
e meu ouvido atenta para murmúrios ao longe.
Tudo aguça meu paladar para beijos açucarados:
borboletas fugazes em ninhos de vento...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Senhora


Sacana você me aparecer agora:
bem nesse tempo, justo nessa hora,
com paixão tamanha...
eu que tava assim
tão calma,
tão santa,
tão senhora!

sábado, 15 de setembro de 2012

Verdade





Essa tua alegria só me faz bem.
Mesmo sabendo que não podes, que não vens...
Ainda e mesmo assim: sou tua e de mais ninguém.
 
 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Corpo da ausência


Já não me sei há horas. Desconstruo as cercas e arames que me prendem a casa.
Meu sono é inquieto, pois teu olhar é desvelo sobre mim.
Sorrisos em tiras de lembranças, arquivos cheios de bytes e saudade.
Minha casa não é mais só concreto. Há agora sonho e sentimento – algodão rarefeito. 
A ausência densa toma forma na memória – imagem terna e profunda: teu corpo.
Arranjo muitas formas de não me dizer a verdade. Falo muito sem nada dizer.
O riso é puro disfarce.
Meu desejo alicerça halos de ternura em tua volta, mas minha incerteza – boca muda, coração latejante – conjuga equívocos em teu ouvido.

Ausência. Distância. Horas e quilômetros e circunstâncias não conseguem me afastar de ti.
Ainda permaneço assim. Anseio e luz. Medo e desejo. Há coisas que simplesmente não se pode dizer...
Entenda-me e apropria-te! Assume teu lugar. Toma teu assento.
Enquanto não te apoderas do que é teu, meu coração vibra de ruído.

sábado, 8 de setembro de 2012

Am@r


 
Desde que os homens decidiram saltar do mundo analógico para a tecnologia em formato binário, os tempos são muito outros. Não se escreve mais cartas de amor.
Meu amor se transcreve em representações binárias arrematadas por pixels coloridos.
Te encaminho todo meu afeto em mensagens digitais de longa distância.
Te busco com agentes robóticos, salto entre plataformas virtuais seguindo o seu rastro em perfis sociais e diários de rede. 
Quero expandir tua memória para entrar definitivamente no buffer de teu coração.
E rastrear cookies de outras origens e login de outras fontes para criar firewall  de proteção anti-concorrência...

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Menina Marília



Pequenina, por enquanto você é somente uma ideia e um nome para mim. Porque, de você, ainda temos apenas isso. Você cresce no ventre de sua mãe, se prepara para ver a luz do mundo, suas flores e anoiteceres. Vai, em breve, saber o que é respirar com os próprios pulmões e esticar o corpo para tomar posse de seu espaço no mundo. Mas, por hora, você ainda é um grande feixe de células, um grande emaranhado de expectativa – um Ser se fazendo em silencio, em meio à carne de outra vida que se faz passagem, abriga com generosidade a iniciativa de trazer nova vida ao mundo. Você já tem nome de poema e de cidade. Pode ser tão grande quanto um ou outra. Pode ganhar o mundo ou vencer somente em sua própria terra. Tornar-se tão grande quanto a mágica da poesia ou ainda maior, gigante mesmo, dentro de si mesma. Tudo vai depender, Marília, do que você escolher. Posso garantir que seu pai é um bom homem. Bom de fato, bom na atitude e na intenção. Isso, pequena, num mundo de mesquinharias e misérias, é um tesouro incalculável. Desejo que você tenha olhos para enxergar essa riqueza impalpável. E que tenha uma grande alma – leve e radiante, cheia de coragem e, sempre, alguma irreverência para teimar em seguir adiante mesmo que pés, mãos e cabeça digam que pode não ser possível. Isso poder fazer toda a diferença, Marília. Desejo ainda que seu pai tenha amor por você, mas também respeito para saber quando desistir, gentilmente, de ser somente pai e se tornar somente um amigo, silencioso, mas atento. Desejo ainda que ele tenha tempo e alegria para você. E que possa pensar em organizar piqueniques para os seus finais de semana ou um banho de mar nas tardes preguiçosas de verão. Que saiba observar seus movimentos e ler seu sentimento. Não, não desejo que ele seja um super-herói, mas que tenha um espírito incansável para acompanhar você se fazendo gente, fazendo-se também a ele mesmo um grande e afetuoso pai. Porque você vai perceber, Marília, mais frequentemente do que se pensa não são os pais que fazem os filhos... antes disso, são os filhos que tornam pessoas comuns grandes pais. A palavra que melhor define essa construção é generosidade. Oferecer a chance de a vida cumprir os destinos de Deus só pode ser um ato de grande amor. Seja feliz, Marília. Mas, antes de tudo, procure tornar-se o que você realmente é. Isso pode ser difícil ou doloroso, algumas vezes. Mas, com certeza, é o melhor caminho para ser feliz.

*crônica para Marília, filha do amigo e médico Camilo Fernandes, quando ainda estava em gestação por sua mamãe, Jú.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Calma

Que minha mente inquieta sossegue e
 me traga o silêncio dourado dos desertos...

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Muitas roscas pra você!

As pessoas vivem reclamando da falta de tempo: tempo pra visitar uma velha amiga, pra sentar e planejar uma viagem de férias, pra uma conversa por telefone com a família, tempo pra viver... Mas parece que elas encontram tempo para todo o resto, ou melhor, elas não têm tempo porque precisam fazer o supermercado todo sábado, entre 18h e 20h, ou porque precisam cuidar de tudo para o marido e/ou filhos, ou porque só elas sabem resolver tudo da casa ou então porque são muito muito ocupadas mesmo, mal conseguem abrir seu correio eletrônico e se irritam facilmente quando encontram uma lista de mensagens para ler, mesmo que seja de amigos que, apesar da distância, querem se fazer presentes em suas vidas.

Tenho uma conhecida que, toda semana, a despeito de qualquer coisa, separa uma ou duas horas para escolher conteúdos bacanas (fotos, frases, ditados) e enviar aos amigos. E ela faz porque gosta de fazer, porque gosta de estar presente – diariamente – na caixa virtual de seus amados & queridos. Ela também escolhe notícias e outros textos, alguns bem divertidos. Pelo que sei, não faz isso para impor sua opinião, como entendeu certa vez uma sua amiga... Acho que ela quer dizer aos seus preciosos quem é e como se posiciona. É como se conversasse remotamente, dando um sinal de suas ideias, esperanças e sonhos. Sei que já foi mal compreendida. Teve gente que pediu para ser retirada de sua lista. Ela o fez, com muita presteza, aliás. Não vale gastar tempo e bytes com quem não quer interação, especialmente, aqueles que se sentem ofendidos com a pretensa invasão de sua privacidade virtual. Também me contou que, algumas vezes, quase se chateou com o sentimento de ofensa de alguns. Afinal, eles eram ocupados, muito ocupados e quem era ela para ficar mandando mensagens assim, a torto e direito? Claro: alguém que não tem nada pra fazer! Não, ela vive só, mas tem compromissos, e contas, planos e dores para tratar. Todos os dias. Como o resto da humanidade. Só que faz parte da ‘humanidade’ dela querer manter a interação, o laço – como um aceno de afeto – mesmo em épocas de pouco tempo.

Falando em tempo, lembro de um amigo para quem não tem mau tempo... É cadeirante há mais de 20 anos e, calculo, sua rotina exige mais que o dobro de esforço dos ditos ‘caminhantes’. Nele admiro bastante sua determinação, suas buscas, seu sorriso aberto. Acho que ele é feliz, bem feliz. Mas já o vi meio desanimado e cansado. Sem nunca posar de ‘vítima’. Isso mesmo: nunca se fez de coitado. E garante mesmo que sua vida é muito boa, talvez melhor mesmo do que antes desses 20 anos na cadeira. Claro que já o vi furioso e indignado. Com as mesmas coisas que todos nós: a extorsão descarada dos impostos, a má qualidade de vida nas cidades, o trânsito ruim, a falta de educação crescente...  Não lembro que vê-lo reclamar da falta de tempo. Sei que cumpre uma rotina esportiva, inclusive, pois já foi paraatleta: basquete e remo adaptado. E diante de pequenas dificuldades para nós, caminhantes, se safa com galhardia. Já o vi comentando, muito bem humorado, ao ter que aguardar numa fila: não se preocupe, eu estou sentado... Disse isso a uma moça que, distraída, quis fazer gentileza sem perceber a inutilidade do seu gesto, pois como ele mesmo insinuou, mais incômodo era a situação para ela, parada, em pé, naquela fila imensa...

Acho que, no final, estou mesmo me reportando às nossas prioridades e ao foco de nossa visão que anda muito distorcido. Tenho uma conhecida que me promete há meses um café em sua nova residência. No começo, insisti um pouco até por gosto muito dela, queria mesmo conhecer seu cantinho. Agora, não. Não quero constrange-la ainda mais. Não sei se o tão falado cafezinho se tornou um peso a mais em sua rotina tão onerosa em tempo e paciência ou se ela acha que, para ser especial, tem que providenciar um cenário charmoso: pães, doces, salgados, decoração, a casa toda... Pena, então: ela não percebeu que a importância mesmo é do momento em si - o encontro.

Dias desses, em sentido contrário, tive um momento muito feliz. Durante visitinha a uma pessoa conhecida, muito humilde, fui convidada para um café com ‘rosca’. Logo imaginei uma rosca daquelas massudas e açucaradas ou então recobertas de chocolate e confeitos – donuts? Não, era uma rosca comprada pronta, aquelas sequinhas, que fazem estalido quando partimos entre os dedos para comer aos bocados. Quase me frustrei, mas logo lembrei: esse tipo de biscoito era uma iguaria em tempos passados. Além do bolo caseiro, feito para a ocasião, o biscoito comprado na venda mais próxima era um sinal franco do prestígio da visita. Uma pequena distinção ao visitante, dispondo-se os donos da casa a gastar com biscoito ‘de fábrica’, como se dizia. Lembrando disso, sentei diante da mesa singela e me fartei com o bom café, fresquinho e forte, e meia dúzia de biscoitos estalando de novos, recém retirados do pacote a vácuo. Entre um gole de café, um bocado de rosca e um dedo de prosa, observei o tempo correr lá fora, pela porta da cozinha, entreaberta, com vista para a praia. Na manhã fresca de outono, um casal se esbaforia correndo pela areia fofa e um pescador caminhava lento pela beira da água. Nesse momento, senti uma bola macia de pelos enroscar nos meus pés: o gato da dona da casa não se fez de rogado, quis participar da conversa e aproveitar o solzinho manso, ali mesmo, no canto da cozinha, justo por onde entravam réstias da luz e da vida dos outros passantes, vivendo outras histórias e sem tempo prum cafezinho...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Branco escuro

No denso fundo de minha alma, onde reside minha alegria, há um quê de soturno, um pouco de melancolia. Talvez um prato meio agridoce numa farta ceia, uma pequena nuvem de sombra no louco calor que me alimenta e incendeia...